Apesar da presença crescente do sinal do celular no mar, próximo das cidades costeiras, o rádio VHF (very high frequency) ainda é um equipamento de extrema importância a bordo, além de obrigatório para barcos classificados como de mar aberto pela Marinha. Contudo, toda embarcação, mesmo que a lei não exija, deve ter um equipamento desse a bordo, nem que seja de um modelo portátil.
Há muitos motivos para o VHF estar sempre ao alcance dos olhos e da mão do piloto. Primeiro, porque não depende de sinal de celular — é notório que, na alta temporada, quando há muitos usuários ao mesmo tempo, às vezes não conseguimos fazer ligações, mesmo dentro da área de cobertura da operadora. Segundo, porque a chamada pelo VHF alcança, dentro da área de abrangência do aparelho, todos os barcos, marinas e iates clubes ao redor — justamente quem, numa emergência, poderá prestar socorro mais rapidamente. Por fim, o VHF não depende de uma bateria que dura poucas horas, como as dos celulares — o rádio fixo é ligado ao banco de baterias do barco e o portátil usa bateria com capacidade maior que as dos smartphones.
Rádio fixo ou portátil?
O VHF marítimo, que opera na frequência de 156 a 162 MHz, pode ser fixo ou portátil, conhecido por HT, abreviatura de hand talk. Os rádios VHF fixos oferecem mais recursos, 25 W de potência e alcance que pode chegar a 40 milhas (74 km), dependendo da antena e das condições atmosféricas.
Já os portáteis têm potência, normalmente, de 5 W e alcance máximo de 12 milhas (20 km). Tais valores baseiam-se na propagação das ondas de rádio sem obstáculos entre as estações.
O ideal é ter um rádio fixo a bordo e outro portátil, que permite, por exemplo a comunicação entre quem está na praia e o barco.
É preciso registrar o aparelho
Para ter um rádio a bordo, é necessário obter a licença de estação móvel marítima, concedida pela Anatel, que atribuirá o prefixo e o MMSI (Mobile Maritime Service Identity) do barco, para ser inserido no rádio.
Aperte para falar, solte para ouvir
Na lateral dos rádios portáteis e dos microfones dos rádios fixos, há um botão com a indicação PTT (push to talk), abreviatura, em inglês, de “empurre para ouvir”. Então, funciona assim: pressione o botão enquanto fala e solte para ouvir. E nada de confidências e segredos no rádio, porque todo mundo que estiver sintonizado na mesma frequência poderá ouvi-lo.
As funções básicas de um rádio VHF
Os modelos fixos e os portáteis de rádio VHF marítimo têm funções em comum, que todo piloto ou tripulante deve conhecer. Confira:
Off/Vol ou Vol – Ligar, desligar e controlar o volume. Certos modelos têm a função PWR para ligar e desligar.
SQL – Do inglês “squelch”. Normalmente, quando se está num canal aberto, sem sinal, há apenas ruídos. O squelch serve para suprimir esses barulhos indesejáveis e, desta forma, otimizar a recepção. Deve-se elevar o squelch apenas até parar o ruído, pois um nível muito alto limitará a recepção do rádio apenas a sinais fortes.
16 9 – Aciona diretamente o canal 16. Apertando novamente essa tecla, entra-se no canal 9, que, no exterior, tem a mesma função que o canal 68 no Brasil, ou seja, é usado para chamadas entre barcos de lazer.
CH/WX Dual – Seletor de canais: aperte esta tecla uma vez e, depois, a seta para cima ou para baixo. Se pressioná-la duas vezes, entrará na função WX, que acessa canais de boletins meteorológicos, mas esse serviço não é disponível no Brasil. Já a função Dual, acionada quando essa tecla é pressionada por um segundo, monitora dois canais, começando pelo 16. Se pressionada mais uma vez, essa tecla traz a função Tri watch, que monitora três canais.
Seta para cima e seta para baixo – Junto com a sigla U/I/C, esses botões selecionam um canal e ajustam a operação para os modos americano (U), internacional (I) ou canadense (C). No Brasil usa-se o modo americano, exceto para comunicação com as estações costeiras da Embratel (Renec), que usa o modo internacional.
Scan Tag – A função Scan rastreia os canais em uso, parando em cada um. Já a função Tag, acionada ao apertar essa tecla mais uma vez, registra os canais que se quer rastrear.
Distress – Para chamada de emergência, mas não funciona no Brasil.
DSC – Abreviatura de chamada digital seletiva (em inglês). Se o rádio tiver o MMSI (número de nove algarismos que identifica a estação-rádio), permite chamadas individuais (exclusivas) para outros barcos que também tenham essa função, usando o canal 70. Além disso, se o rádio estiver ligado no GPS, aparece a posição POS, em coordenadas geográficas do barco, ao se apertar a tecla DSC por um segundo.
Canais para conversação
No dia a dia, usamos os canais 08 e os próximos do 68 (exceto 69, 70 e 72). Para estabelecer uma conversação, chamamos o prefixo da estação desejada por duas vezes, seguido do nome da estação (uma vez). Para falar ao rádio, seja breve e preciso, mantendo uma distância de cerca de 10 cm do microfone. Costuma-se terminar cada fase da conversação com a palavra câmbio. Exemplo: “Delta 24, Delta 24, aqui é (nome do barco), câmbio”. Em seguida, deve-se combinar um canal para conversão como, por exemplo, o canal 71. Para encerrar a conversa, diz-se “Câmbio final”.
Os canais 16 e 68
No Brasil, os barcos de lazer usam o canal 68 para chamadas e socorro. Ou seja, esse canal deve ser usado apenas para chamar e, depois combinar outro canal para a conversação. Em emergências, a chamada deve ser feita primeiro no canal 16 e depois no 68. O canal internacional de chamada e socorro no rádio VHF é o 16, que deve ser utilizado para contatar a Embratel, a Marinha e os navios. Fora do país, o canal 68 é usado para comunicação entre navios.
Há três situações consideradas de emergência
Perigo iminente de naufrágio – Repete-se “mayday” três vezes, seguido do nome do barco, posição e ocorrência (por exemplo, condição de mar muito dura ou entrada de água a bordo em grande quantidade).
Auxílio médico – Repete-se três vezes a palavra pan, seguido do nome do barco, posição e ocorrência (por exemplo, algum passageiro com mal súbito, que requeira orientação ou socorro médico imediato).
Ameaça à segurança da navegação – Repete-se três vezes “securitê”, seguido do nome do barco, posição e ocorrência (por exemplo, presença de grandes troncos à tona).
Do mar para a terra e vice-versa
Com o VHF, pode-se também entrar na rede telefônica por meio das estações de rádio costeiras (Rede Nacional de Estações Costeiras – Renec) da Embratel, que operam 24 horas por dia nos canais 23, 24, 25, 26, 28, 84, 85, 86, 87 e 88. Esse serviço é tarifado. As estações costeiras da Embratel também permitem chamadas de terra para o rádio de embarcações, mas é preciso saber qual a estação costeira mais próxima do barco. As ligações podem ser feitas a cobrar ou debitadas em sua conta telefônica, desde que você seja cadastrado na Embratel — o telefone da Embratel para esse serviço é o 0800 701 2141.
O rádio VHF também é utilizado para a transmissão do boletim do tempo, pelas estações costeiras da Embratel (em canais e horários pré-combinados) ou por meio dos iates clubes e marinas. As estações das marinas e iates clubes funcionam normalmente no horário comercial. Junto da Embratel, formam o Serviço Móvel Marítimo.
Fonte: minutonautico